Um novo tipo de golpe jurídico tem se espalhado por Picos e municípios vizinhos, levantando preocupação entre advogados e autoridades. Criminosos têm se passado por profissionais do Direito, utilizando nomes reais e informações verdadeiras de processos para aplicar fraudes e enganar clientes.
O advogado Giovani Madeira, um dos alvos recorrentes dos golpistas, revelou que a prática se repete há meses. “Do ano passado pra cá, essa já é a sétima vez que usam meu nome para enganar clientes. Os golpistas entram em contato fingindo representar o escritório e cobram taxas falsas”, relatou.
Segundo ele, os criminosos consultam dados públicos em plataformas como o PJe e o JusBrasil, de onde retiram informações sobre ações em andamento. Com esses dados, criam perfis falsos em redes sociais e aplicativos de mensagens, simulam documentos e enviam cobranças fraudulentas — muitas vezes com linguagem técnica e aparência de autenticidade.
Entre os argumentos usados pelos falsários, estão supostos pagamentos de custas judiciais, honorários de peritos e taxas para liberação de valores. “Eles dizem: ‘você tem um valor para receber, mas precisa pagar uma taxa hoje para liberar’. Isso convence muita gente porque eles usam detalhes verdadeiros do processo”, explica Giovani.
Para dar credibilidade ao golpe, os criminosos chegam a produzir boletos com logotipos de tribunais e abrir contas bancárias em nome de terceiros, o que dificulta a investigação. “Esses casos precisam de uma delegacia especializada em crimes cibernéticos, como existe em Teresina. É difícil rastrear”, pontua o advogado.
Outro ponto destacado é a fragilidade do acesso aos sistemas judiciais, que facilita a obtenção dos dados usados nas fraudes. “Em alguns estados, como São Paulo, o acesso aos autos exige login e senha. Aqui, grande parte dos processos é pública e pode ser consultada livremente”, acrescenta.
Giovani alerta ainda para os danos que esse tipo de crime causa à imagem da advocacia e à confiança no sistema judicial. “Não é só o nome do advogado que é atingido, mas toda a categoria e o próprio Judiciário, porque o cliente começa a desconfiar até das cobranças legítimas.”
Ele orienta que, diante de qualquer solicitação suspeita, o cliente procure confirmar diretamente com seu advogado, usando contatos já conhecidos. “Nós usamos o mesmo número há 18 anos. Se for uma mensagem de um DDD desconhecido, desconfie”, reforça.
Caso o cliente realize uma transferência indevida, a recomendação é agir imediatamente: “Na Caixa Econômica, por exemplo, é possível cancelar o pagamento em até 30 minutos. O Banco Central também criou o Mecanismo Especial de Devolução (MED), que pode ser acionado antes mesmo do boletim de ocorrência.”
A OAB Piauí disponibiliza um canal direto de denúncias pelo telefone (86) 3142-5856. As informações são encaminhadas à Secretaria de Segurança Pública do Estado, que conduz as investigações. A entidade reforça que está intensificando as ações de prevenção e conscientização para combater o golpe.



















